Como tudo começou…
Esta coletânea de cartuns temáticos, que aborda o dia a dia das pessoas com deficiência, é o resultado de duas décadas durante as quais registrei flagrantes em que as barreiras arquitetônicas, o preconceito e a desinformação estão presentes.
Tudo começou em 1981, escolhido pela ONU como “Ano Internacional das Pessoas com Deficiência”, tendo como tema central “Participação plena e igualdades”. Era “quase” uma utopia, pois, naquale época, ainda não se falava em INCLUSÃO SOCIAL e outros conceitos de CIDADANIA. A sociedade desconhecia o potencial do portador de deficiência; tinha uma visão assistencialista e paternalista.
Nesse mesmo ano fui convidado a articular uma associação da categoria em minha cidade Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. A cidade possui uma topografia bastante acidentada, o que, consequentemente, dificulta o acesso das pessoas com deficiências físicas ao espaço urbano, principalmente aquelas de cadeira de rodas.
Foi uma missão difícil. Primeiro, pela falta de informação. Eu desconhecia meus próprios direitos e, muito complexado, não assumia minha deficiência. Depois, não conhecia a realidade de outras pessoas com deficiências: onde moravam, como viviam. Era um desafio.
Visitando os bairros periféricos, deparei-me com quadros dramáticos de pessoas portadoras de deficiência. O extemo da segregação, reflexo da ignorância e do preconceito, tudo isso associado à condição da pobreza absoluta. Foi um impacto muito forte. Perplexo com aquela situação e impotente diante daquele flagelo humano, percebi que minha voz não tinha eco. Num instante de reflexão, pensei: “Tenho uma idéia”. Gritei emocionado: “EUREKA”! Fazia cartuns para o jornal da prefeitura, “O Momento”. Por que não abordar aquela realidade por meio de cartuns?
A arte foi um importante instrumento de reflexão nessa longa jornada, no combate ao preconceito. Passei a produzir cartuns enfocando a questão e deixava bem claro que “a proposta não era generalizar nem dramatizar, mas fazer cócegas na sensibilidade”.
Logo, os desenhos ganharam espaço nos jornais e revistas especializados em todo o Brasil. Com o êxito, passei a realizar exposições itinerantes. Os visitantes revelaram profundas emoções e indignação ao se depararem com a realidade que até então desconheciam. O tema provocou reflexões e discussões em todos os locais por onde a mostra passou.
Lancei esta coletânea durante o XIX Congresso Mundial da “Reabilitação Internacional”, no ano 2000, no Rio de Janeiro. O evento possibilitou-me divulgar a publicação nos cinco continentes ali representados. Conclui que a problemática não era apenas na minha cidade, mas que a exclusão social consistia em uma preocupação mundial.
Mesmo com a crise generalizada que assola o País, é possível contabilizar importantes conquistas. A principal foi a conscientização das próprias pessoas com deficiência e a sua orgamização social por meio de associações, federações e entidades não-governamentais. Conhecedores de seus DIREITOS E DEVERES, os portadores de deficiência hoje colhem frutos, resultado de muitas lutas e do sonho de uma sociedade mais justa.
Pretendo continuar tratando a questão por meio de cartuns e, se depender de todos os segmentos sociais, abordarei apenas as conquistas… O PRECONCEITO…?!? “Coisa do passado!?!”
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